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sábado, 20 de outubro de 2012

Foi por acaso?


“Minha vida não era tudo aquilo que eu esperava, todos os dias que eu acordava era uma batalha, batalha da minha vida para garantir o pão nosso de carda dia, minha assinatura de TV e minha cerveja ao final de semana”.

 José se arrumava para ir ao trabalho, mas que trabalho? Ele era mais um desempregado no Brasil, mais um negro sem classe social digna, sem respeito, e ficara indignado com noticias na TV.

“Mas ao chegar em meu escritório minha secretária já me avisa que não terei o numero de clientes que esperava e sim dois a menos, bravo entro em minha sala e logo já ligo no ramal da Elisa e digo pra ninguém entrar, hoje é um dia ruim, a assistente de cozinha me trouxe o coffe, temei-o devagar pra não queimar meus lábios e logo começar a trabalhar, e já sabia – era um dia ruim.”

José fala pra sua “nega” passar a sua camisa azul de ir ao culto, pois hoje ele tem um teste numa empresa e não pode perder a oportunidade de ser porteiro num edifício comercial. Sua mulher lhe da um café requentado que ele engole com uma bolacha água e sal que ainda tem da cesta básica, ele está todo empolgado hoje será um dia bom pra ele.

“Elisa ligou em meu escritório me lembrando que hoje será a entrevista com os novos porteiros, e perguntou se seria eu mesmo que faria a entrevista ‘mas é claro que sim, o último nos deu tanto prejuízo que agora terei que ser eu mesmo a escolher’. Mas fico ainda mais irritado que ela me diz que faltam duas horas pra entrevista, desligo o telefone indelicadamente ainda com ela falando, imagina, a entrevista é pra daqui duas horas, da tempo ainda pra eu jogar paciência”

Lá vai José correndo atrás do ônibus, pois já está quase na hora, faltam só duas horas, José sai derrubando café em sua camisa azul que ficou um pouco manchada, mas fazer o que? Se é a única que ele tem. Avistou lá na esquina o ônibus passando, “Se eu cortar por esse terreno baldio, ainda pego-o em outro ponto” , e foi isso que ele fez, saiu em disparada pelo mato do terreno e quase se rasgou na cerca de arame farpado, mas foi por pouco, consegui chegar a tempo, pena que quando pega neste ponto o ônibus já chega lotado, mas pelo menos ele chegará na hora certa.

“Já estava no terceiro jogo de paciência quando olhei no relógio e já tinha passado trinta minutos da hora marcada para entrevista, mas tinha que acabar aquele, não iria deixar o jogo incompleto, é muita sacanagem, olha a Elisa ligando novamente: ‘Já vou estou muito ocupado, peça para eles aguardar’. Terminei meu jogo agora sim posso ir fazer a entrevista”.

José já estava na sala de espera fazia cinquenta minutos e pensou: “Dava tempo de comer mais uma bolacha”

“Entrei no meu elevador exclusivo, pois não gosto de dividir o elevador com mais pessoas, pois penso estar numa lata de sardinha, olho na recepção tem cinco ‘Seu Zé’ para a vaga de porteiro, e de longe vejo aquele da ponta com uma baita mancha em sua camisa azul que da pra perceber muitas vezes lavada, pois bem aquele já está desclassificado, se não consegue manter sua roupa limpa imagina cuidar da portaria de uma empresa.”

Ele olhava muito para o José, e para a mancha em sua camisa, sem ao menos ouvir o José, já o dispensou. José ficou muito triste, pois fez essa maratona inteira e não vai levar uma noticia boa para a sua “Nega”, vai dizer que foi ao outro lado da cidade para nem ao menos ser ouvido. José ficou muito decepcionado, e saiu muito bravo e com fome, mas não tinha dinheiro pra comer um lanche somente o dinheiro da passagem da lotação, mas não se aguentava de fome e resolveu ir numa lanchonete comer um salgado.

“Depois daquela tediosa entrevista ouvindo os candidatos dizer a mesma coisa que vai se o melhor, que está querendo realmente, bla bla bla, escolhi um e pronto, tudo igual mesmo, e fui ao outro lado da rua onde tem uma lanchonete para comer um salgado frito, era muito bom o salgado daquela lanchonete.”.

Seu José desconsolado comia aquele salgado já pensando na caminhada que faria pra chegar em casa, mas tudo bem, foi quando ele avistou aquele sujeito que nem quis ouvi-lo na entrevista, o sangue de seu José “ferveu” como uma lava de vulcão, logo pensou na família em casa esperando uma boa notícia, e por culpa daquele sujeito teremos uma má notícia. Seu José esperou o empresário sair da lanchonete e foi atrás dele, com um golpe ele derrubou o empresário e pegou o dinheiro da passagem que tinha caído do bolso de magnata ao chão, e saiu andando, foi quando encostou duas viaturas e levaram seu José para a delegacia.

“Seu delegado, nunca vi esse homem na minha vida, creio eu que ele deve ser um bêbado sem nada o que fazer e quis me assaltar para beber ainda mais, ele é um perigo para a sociedade, bota ele na cadeia, se ele fez isso comigo sem ao menos me conhecer, pode fazer isso com qualquer um na rua, pode ser seu filho, pode ser seu pai, prenda-o seu delegado”

Seu José não voltou para a casa aquele dia, ele conseguiu ligar no telefone público da sua rua e mandar avisar sua mulher que ele estava preso e para ela conseguir um advogado para tentar fazer algo em seu favor.

“Ao sair da delegacia e fui direto para minha cobertura em Ipanema, chego em casa cansado pelo dia intenso, não tenho ninguém pra me beijar ao chegar em casa, abro minha caixa de e-mail e está um e-mail de minha ex-mulher cobrando a pensão, logo fecho o e-mail e vou dormir que amanhã é mais um dia”

Após cinco anos José sai da cadeia sem ao menos ser julgado, mas arrependido do que fez, ele sabe que em sua casa sua “Nega” está à espera com uma festa. Quando chegou ao centro da cidade estava no ponto de ônibus ele viu um rapaz que foi atravessa a rua e caiu, um carro estava vindo e não estava conseguindo frear, seu José num impulso correu até aquele homem e o empurrou para o carro não o atropelar, mas o carro pegou em cheio seu José que não aquentou e morreu ali mesmo na rua.

“Ao se empurrado por alguém que eu não conhecia, cai perto da calçada, quando olho para trás vejo um homem  sendo atropelado em meu lugar, nessa hora fiquei desesperado e liguei para o resgate, eles vieram socorrer o homem, mas já era tarde, depois ao chegar ao IML, descobrimos que aquele  homem, foi o mesmo que botei na cadeia, procuramos a família dele, e os avisamos, foi horrível ver aquela moça linda que era a mulher dele chorando desesperada e logo pensei ‘quem irá chorar por mim? Minha secretária? ’ depois desse dia repensei toda minha vida, ajudei muito a família de seu José, depositei muito dinheiro para os filhos dele para que eles possam fazer faculdades, a mulher dele montei uma lanchonete para ela, e hoje eu mesmo estou aqui, trabalhando nesse sitio que meu pai me deixou e sem dinheiro, estou casado com uma mulher que está grávida, e vou batalhar para dar o sustento para meu filho, aprendi com a vida que dinheiro não é tudo, aprendi que o amor que sentimos para como próximo é muito bom, e quando esse amor é retribuído é ainda melhor, dinheiro nenhum paga.”

Ao dizer isso seu José lá de cima vendo tudo isso chorou e pensou “Minha missão foi cumprida”

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